A MOITA DO MOITA

A MOITA DO MOITA

Eu só não quero é ter remorso.

25 julho 2006

Racismo

Você pode acreditar que alguém possa escrever um texto como esse que está aqui logo abaixo e entre aspas?

“Sabe o que ando gestando? Uma idéia-mãe! Um romance americano isto é, editável nos Estados Unidos. Já comecei e caminha depressa. Meio à Wells, com visão do futuro.

O clou será o choque da raça negra com a branca, quando a primeira, cujo índice de proliferação é maior, alcançar a raça branca e batê-la nas urnas, elegendo um presidente negro! Acontecem coisas tremendas, mas vence por fim a inteligência do branco.

Consegue por meio dos raios N., inventados pelo professor Brown, esterilizar os negros sem que estes dêem pela coisa. Todo negro gostaria de ter cabelos lisos, o professor Brown inventa uma pílula que ao tomá-la os cabelos ficam estirados imediata e permanentemente, Porem como efeito colateral esteriliza definitivamente o indivíduo. Assim ficariam livres desse povo”

Pasmem! Foi escrito por Monteiro Lobato. Cujos livros ainda são recomendados para crianças.

“Pois cá comigo - disse Emília- só aturo estas histórias como estudos da ignorância e burrice do povo. Prazer, não sinto nenhum. Não são engraçadas, não têm humorismo. Parecem-me muito grosseiras e até bárbaras - coisa mesmo de negra beiçuda, como Tia Nastácia. Não gosto, não gosto, e não gosto!”

Na literatura infantil, ele também desliza feio. Dona Benta é culta, sábia, prudente, arrumada e branca. Tia Nastácia, é medrosa, supersticiosa, feia, "negra beiçuda”. Incrível como escapole o racismo, o tempo todo. Dá até calafrios. E olhe que naquele Sítio “maravilhoso”, a única pessoa que trabalha é a Nastácia.

Eu li, como quase todo menino da minha época, mas os filhos do Moita nunca leram Monteiro Lobato. Não permiti. Um escritor racista ao extremo e oportunista que, tido como nacionalista, na verdade, só pensava nele mesmo e na sua crença de que o negro era inferior.

Amoitaram-se

17 Comments:

At 2:36 PM, Blogger Chris said...

Que absurdo!!! Meus filhos também jamais lerão Monteiro Lobato!

 
At 4:41 PM, Blogger Santa said...

Moita,

A experiência de Monteiro Lobato como fazendeiro revoltado acabou por trazer uma ressonância literária não esperada. Veja o personagem Jeca Tatu e as oligarquias em crise.

Bjs

 
At 5:12 PM, Blogger Serjão said...

Taí. Eu li Monteiro Lobato e nunca atentei para isso. Claro que são palavras absurdas principalmente o primeirp trecho o quel não me recordo de ter lido nas minhas leituras. Um abração

 
At 6:48 PM, Anonymous Anônimo said...

Cruzes!!!!

Beijocas, meu querido!

 
At 9:06 AM, Anonymous Anônimo said...

é a hipocrisia reinante na nossa sociedade, são anti-racistas só na aparência

 
At 11:33 AM, Anonymous Anônimo said...

Nao seja radical.O homem e produto do seu tempo e do seu meio. Ja bastava ser pioneiro em outras coisas.Que dira as centenas e milhares de homens que discriminam as mulheres, tratam-nas como putas, burras, loucas e que encontro todos os dias nessa net e nesses blogues.Hoje mesmo ja li dois textos que me deram engulhos mas nao falei nada porque as poucas vezes que fiz estas observacoes , os autores so nao me bateram porque estamos no pc mas foram ao meu blgoue e so nao me chamaram de santa.

 
At 10:07 PM, Blogger + Kazzx + said...

Caro Moita,

Li Lobato e não me fez efeito nocivo algum, sei lá, talvez não tenha atentado para esta veia digamos assim "estranha" so Sr. Lobato, que era Nacionalista já sabia...vou prestar mais atenção, meu filho já leu Lobato....

 
At 11:47 PM, Blogger Bell... said...

Moita, saudades...
mas volto, prometo.
bjs.

 
At 10:50 AM, Blogger Unknown said...

Moita,

Isso não me espanta, era o pensamento nazista da época, eu já li vários livros escritos no final do século IXX e início do século XX em que esse tipo de “idéias” imperavam, o que me espanta é que alguns ditos pensadores e escritores daquela época ainda sejam tidos como revolucionários e avançados, como acontece com Marx e tantos outros simpatizantes do comunismo, nazismo, fascismo...

Beijo

 
At 5:19 PM, Blogger SV said...

Moita, realmente aos olhos de hoje soa como um absurdo tremendo. Exemplos desses estão cheios pela literatura e são uma fotografia das suas épocas.
Hoje em dia, o racismo, assim como os mais diversos preconceitos estão mais elaborados, disfarçados. Quando admitimos que o SUS trate o povo pior do que o gado é tratado pelo agronegócio, estamos aceitando tacitamente o sistema. Tenho minha filha numa escola pública e já ouvi questionamentos a respeito disso, porque, ao que a maioria aceita, o que é público só serve para pobre. Por quê? Toda a sociedade tem que lutar por serviços públicos que sejam interessantes a todos. Transporte, saúde, segurança, educação. No Brasil, se você toma ônibus, usa o SUS, chama a polícia ou tem filhos em escola pública você é considerado um coitado. Deveríamos estar lutando para que a classe média tivesse acesso a esses serviços! Afinal, pagamos duas vezes: nos impostos e quando contratamos particular.
Pensando bem, Monteiro Lobato era menos cínico.

 
At 7:21 PM, Blogger Moita said...

Aos amigos que alegam ser é uma questão de época, eu fico pensando: Monteiro Lobato nasceu em 1882 e morreu em 1948.

Mahatma Gandhi nasceu em 1869 e morreu em 1948, no mesmo ano que Monteiro.
Graciliano Ramos nasceu em 1892 e morreu em 1953.

Meu pai nasceu em 1913 e morreu em 1986.

Nunca defenderam o racismo, muito ao contrário, e nem se contaminaram com suas épocas.

Os princípios da igualdade e fraternidade só são alcançados por homens de bons princípios.
Eles engolem a suas épocas e ficam a frente delas.

Para a manifestação do racista, parece que qualquer época serve

 
At 11:32 PM, Blogger Nat said...

Moita,

Permita-me discordar. Se Narizinho, Pedrinho, Dona Benta ou até mesmo o Visconde de Sabugosa chamassem Tia Anastácia de "negra beiçuda" poderíamos afirmar que havia preconceito. Contudo, foi justamente Emília, a voz da sátira dos desmandos sociais de Monteiro Lobato, quem utilizou o termo.

Além disso, não podemos nos esquecer que Monteiro Lobato colocou inúmeros negros em sua obra. Além de Tia Anastácia, tivemos Tio Barnabé, o Jeca Negro e o negro pobre e humilde que entrega todas as suas economias para a empreitada do petróleo, no texto "Quero Ajudar o Brasil". E até mesmo um livro inteiro dedicado a denunciar a violência dos brancos com os negros -"Negrinha".

Monteiro Lobato foi muitas vezes acusado de racista. Não o considero assim. Continuo a admirar sua obra.

Bjs

 
At 11:39 PM, Blogger Nat said...

Ahhh. esqueci de colocar o link http://www.samauma.com.br/samauma/005educacaoxv.htm de um texto excelente do Reinaldão sobre o tema. Xô Paulo Paim!!!

 
At 3:39 PM, Blogger Jean Scharlau said...

Caro Moita, surpreende-me que tu, um cabra afeito ao riso, ao sadio deboche, à ironia, não reconheça no Lobato um Monteiro disto. Surpreende-me que tenhas sido um pai ranzinza com Lobato, logo ele! Ora, o escritor tem que fazer os personagens falarem por si - se todos os personagens falarem só a voz do dono, que hiostórias lhes sobrariam para contar?

Veja a ironia de Lobato no primeiro texto: - os raios N (negros?) são inventados pelo professor Brown (Marrom). E veja: ele insinua que os negros, mais numerosos, obviamente bateriam os brancos nas urnas (num tempo onde sonhar isto, ou declará-lo abertamente, seria até perigoso). Os brancos precisariam conseqüentemente diminuir a população negra, para o quê os tais raios N, que os "livraria desse povo" (faltou somente Lobato colocar as aspas, pois esse não era pensamento/sentimento dele, mas da sociedade de então, se ele o fizesse (colocasse as aspas)não estaria sendo irônico, mas crítico, como o foi em muitos outros textos.
Lobato é um dos poucos grandes vultos de nossa história de quem me orgulho à toda prova. Fiz questão de te dizer isto porque acho que teus netos merecem lê-lo. Abra são.

 
At 6:25 PM, Blogger Clinton Davisson said...

Existe uma coisa chamada anacronismo. Monteiro Lobato era bem menos racista do que Os Trapalhões que, reuniram em Muçum, tudo de ruim que poderia ser relacionado a um negro. Ainda assim, isso não desmerece a importância e o valor histórico nem dos Trapalhões, nem Monteiro Lobato. Eles raciocinavam dentro dos limites de pensamento no seu tempo. Infelizmente, o quadro é esse. Mulher é gente, com direito a voto, há menos de 100 anos. No Brasil, ainda estamos aprendendo o que é democracia depois de duas ditaduras longas em menos de 100 anos. É triste, mas é verdade.

 
At 9:34 PM, Anonymous Anônimo said...

Admiro a obra de Monteiro Lobato, li, assisti o inesquecível Sítio do Picapau Amarelo e não me causou, na época, nenhum espanto. Hoje, leio e analiso essa questão do preconceito racial. Observo que a Nastácia é tida como membro da família e é respeitada e querida por todos. A única personagem que, com suas peraltices, fala o que vem na telha, sem medir as consequências, vem a ser a Emíli; reconhecida como mandona, capitalista e inconsequente... Mesmo assim, fazia e até hoje faz a festa entre as crianças.

Acho que Monteiro Lobato, assim como todos nós, não é o homem perfeito, afinal, nem poderia ser! Tinha defeitos, mas quem não tem?! O que fica, pra mim, desse homem é a imensa contribuição que ele deu à Literatura Infantil... Sou professora e vejo meus alunos lerem seus livros, assistirem aos seus seriados e, mesmo depois de anos, se encantarem com seu jeito de escrever para as crianças.

 
At 12:57 PM, Anonymous João Evangelista de Melo Neto said...

Mais do que desmerecer o negro, Lobato crucificou o caboclo na figura imortal do Jeca Tatu, creditando a ele a responsabilidade por todos os males do país, numa interpretação equivocada que, mais tarde, o próprio escritor corrigiu ao aderir ao Movimento Sanitarista, numa admiração aos feitos de Oswaldo Cruz e sua equipe.
Lobato nasceu e teve a primeira infância durante a vigência da escravidão, incorporando o modo pensar da sua classe social, o baronato do café, e não teve dificuldade em se curvar diante do que demonstrava a ciência através de Oswaldo Cruz, vindo a produzir uma série de artigos que foram enfeixados na obra Problema Vital, onde vislumbra a criação do SUS como a conjunção de esforços entre a União, os Estados e os Municípios como a única forma de livra o país da doença crônica. Empunhou a bandeira do saneamento do Brasil, assim como a do petróleo, do livro e tantas outras, o que faz restar com ínfimo peso essa questão do racismo diante do conjunto de sua obra.

 

Postar um comentário

<< Home