A MOITA DO MOITA

A MOITA DO MOITA

Eu só não quero é ter remorso.

19 novembro 2007

Consciência negra e as contradições mundanas

Temos uma descriminação praticamente inerente à cultura brasileira, quase natural.

Dizemos sem perceber:

"a coisa ta preta".

"Hoje é dia de branco", referindo-se ao trabalho. Sugere que só branco trabalha.

"A situação preteou."

"ele é um preto de alma branca"

Descriminamos o preto cotidianamente e diuturnamente.

Agora, criarmos um feriado: o dia da consciência negra. Parece-me coisa do PT.

Porque eu preciso do dia da consciência branca? da fome? da pobreza? da miséria? da vergonha? pelos roubos cometidos pelo partido do governo e aliados?

Isso parece o Movimento dos Sem Terras. Cadê o Movimento dos Sem Bancos? Onde anda o Movimento dos Sem Farmácias? Desapareceu o Movimento dos Sem Postos de Gasolina.

Que país é esse? Que não dá direito a propriedade. A propriedade que fez esse país, a partir das Capitanias Hereditárias, que era o único jeito de se povoar uma colônia, com a dimensão que tem hoje.

É muito comum se fazer diagnóstico extemporâneo, e sem o menor escrúpulo, condenar os artífices e figurantes daquelas épocas, Sem levar em conta a regras e leis que ali vigoravam.

Os piratas, até hoje são condenados. Mas quais eram as leis no século 15 e 16 que proibiam a pirataria? Nenhuma!

Por que a lei áurea, que extinguiu a escravidão do Brasil, foi obedecida? Se nunca houve uma lei que a permitisse.

Bem, o resumo dessa ópera é que enquanto temos feriado aqui, a bolsa de Nova York abre e fatalmente nos trará prejuízos pela nossa preguiça.

Essa consciência negra está enegrecendo a minha consciência.

17 novembro 2007

O comentário do Blog

Silvio Vasconcellos disse...

Moita!
O que degrada
O que corrompe
O que não mata a fome
O que só pede água
O que indaga
O que responde
O que é que é isso
Que consome
Que inrompe na madrugada
Que grita e não responde
Que some quando é visto
Que fome que fome que fome
Que temos do que é preciso
Pra poder mudar um mundo
Mesmo imundo de todo poder
Mesmo que quem no topo esteja
Já não seja o que disse ser
Mesmo que o grito se apague
Mesmo que a água não chegue
Mesmo que a fome corrompa
Mesmo que a chama não queime
Mesmo que chame
Que gema
Que arda
Mesmo que mude
Que vá
Que fique
Mesmo que seja sempre o mesmo
Grite
Grite
Grite
Mesmo que a voz vire eco
Mesmo que nos seja triste
Mesmo que a sós
Mesmo que juntos
No mar de areia se afogue
Moita, resista, insista
O mundo precisa de artista!
Mantenha sempre o brilho do blog!

Sílvio

(Silvio é uma inteligência rara.)

Dúvida

Ainda se eu dissesse
se for aquilo que eu disse,
se disse assim e dissesse
que não significa isso,
se isso não se fizesse
e se comparasse com isso.
Espero que não tivesse
preocupado com isso.
O amor não envelhece.
Verdade não anoitece
nem amanhece com isso.

Moita

02 novembro 2007

Carta aos Amigos

Prezados Amigos

Aconteceram fatos novos, viagens, doença e negócios que me impediram de acessar a Moita com a freqüência indispensável para quem procura manter, "decentemente" (rss), um blog.

Além de todas as dúvidas, havidas e por haver de que fui acometido quanto à mínima eficácia do meu blog nas denuncias aos maus tratos que a infame política brasileira nos submete.

Analiso-me e termino não sabendo definir se sei ou não o que, de fato, estou fazendo diante de situações estarrecedoras que presencio aqui no nordeste brasileiro.

O máximo é ver mães crucificadas no amor materno, vendo seus filhos morrerem aos primeiros vagidos e os sobrando da morte para crescerem na fome, no desemprego e na ignorância.

Uma vez Aluízio Alves disse que "até a imaginação parecia haver desertado da área das secas". Talvez tenha cedido aos próprios fatos.

O fato de se assistir resignado a expiação de uma terra que está morrendo.

Quem não entrou, de uma forma ou de outra na literatura das secas, dentro da qual, somente brotava, irremediável, as tragédias das populações fugitivas, perseguidas pela fome e pela sede, destruídas as lavouras, dizimada a pecuária, desnudos os campos.

E o homem, sangrando as mãos no solo, que lhe recusava uma gota d'agua, cavando à picareta e a enxada, as famosas cacimbas de beber. E migravam.

E finalmente, largavam, no último minuto, tudo aquilo que constituia a sua ambição e a sua glória.

Via-se as queixas e os gemidos dos que fugiam ou dos que ficavam. O desespero que se retratava na própria natureza, nos galhos retorcidos e secos que se levantavam para os Céus como braços inúteis.

O povo, pasmem, morrendo de sede no país que mais detém água doce no mundo.

As medidas que resolvem definitivamente esse problema, são sobejamente conhecidas de todos. Agora ver uma chusma de políticos represando (que ironia) estas soluções, me é degradante.

O inacreditável é ver a igreja católica, a igreja cujo sentido nuclear é a compaixão, não apiedar-se diante de tais circunstancias.

Descubro que não sei mais de nada diante disso. O que será isso? E por falar nisso, vou postar um poema do grande poeta Antoniel Campos, meu conterâneo, aqui do Rio Grande do Norte que também tem duvidas disso.

Se digo “é isso”, não sei
se é isso mesmo que é isso,
pois pode ser — bem o sei,
só parecido com isso.
Mas mesmo não sendo isso,
ou seja, é isso e eu sei,
digo sempre que não sei
(nem sei por que digo isso...)
e por que isso? ... Já sei!
Aliás, não sei. É isso.