A MOITA DO MOITA

A MOITA DO MOITA

Eu só não quero é ter remorso.

15 abril 2008

Inxurrada Mardita

Seu moço, inda me alembro,
me alembro cuma ninguém
o tempo véio num léva
aquilo qui se quiz bem,
nem hai dinheiro qui págue
um amô qui a gente tem.

Faz muito tempo, seu môço,
nós morava no sertão
e a sêca véia danasca
veio qui nem um ladrão,
furtando os verde das fôia,
rôbando ás águas do chão.

E a sêca qui levô tudo,
qui quage acaba o sertão!
Trôve alegria, seu môço,
pru meu pobre coração
e o marvado do inverno
levô sem tê precisão.

Mecê num sabe o qui foi?
Eu vou dizê a mecê ,
um dia de tardinzinha,
ante do escurecê,
tava na porta do rancho,
pensando nem sei em quê?

Quando aparece na estrada,
lá pras bandas do grotão,
um bando de arritirante,
seu môço, era um bandão!
E no mei daquela gente
vinha a minha perdição.

Uma cabôca formósa,
tão bonita... cuma o que?
Os óio, os cabelo dela
eram pretos de duê
e o resto daquele anjo
num tem quem possa dizê.

Apois bem, só pruque ela
veio sê minha alegria.
Deus de inveja, e ciúme
mandô chuvê todo dia.
Inrrolô um mêz chuvendo!
quage a terra amolecia.

Ficô logo tudo verde!
Logo os riacho correu.
A cabôca foi simbora
com tudo que era seu
e ainda levô cum ela
argum pedacinho meu.

Levô foi tudo, seu môço.
A alegria do Sertão,
as notas dessa viola,
o batê do coração
desse cabôco sarado,
nascido nesse grotão.

É, cuma quem tem, seu môço,
uma vasante aprantada.
Adespois, vem uma enchente,
leva tudo na inxurrada,
apôis eu tinha nos peito,
uma vasante encantada.

Ah! inverno miserave,
inverno véio ladrão!
Truvésse o verde das foia.
Truvésse as águas do chão,
mas, carregô na inxurrada
o meu pobre coração.

Renato Caldas,

o mais culto e mais original poeta que conheci. Resolveu abster-se do português erudito pra falar a língua do povo.

10 abril 2008

Desabafo

Vai transar? O Governo dá camisinha.
Mas se engravidou? O governo dá bolsa-família.
Está desempregado? O Governo dá Bolsa-desemprego.
Não tem terra? O governo dá Bolsa-invasão.
Vai prestar vestibular? O governo dá bolsa-cota.
Mas tenta viver por conta própria para ver o que acontece:
o governo te enche de impostos.

06 abril 2008

Sara

Verbo extraordinário
na lógica da sensibilidade,
na sensibilidade da lógica,
e na lógica sensibilidade das palavras.

As belas palavras,
todas de uma propriedade singular,
saem de sua mente aos borbotões,
fluentes e abundantes
como espuma em cachoeira.

Como quase poeta, só me resta
o esforço diuturno, sacrificado e anônimo
na tentativa de imitá-la.

Moita